Tem horas que tudo que queria era arrumar um trabalho ruim, gastar o mínimo do meu salário possível, comendo só cachorro-quente e ajudando a guardar mesas de bar de madrugada por um lanche.
Guardaria todo o dinheiro dentro da capa de algum filme antigo, até ficar difícil de fechar. Ai largaria o emprego, pegava tudo que economizei e comprava o maior número de bloquinhos de anotações que conseguisse.
Sairia atrás de gatos, qualquer gato, os de rua mesmo, levava pra casa, e quando tivesse uns 20 deles andando e ferrando tudo, montaria um circo, o circo dos gatos.
E teria trapezistas, malabaristas, palhaços, mágicos, uma gata vidente gordinha, e a lona seria decorada com ratinhos de chapéu.
Meus gatos fariam um desfile pela casa, promovendo o circo para todos os insetos, e no fim da tarde, quando a luz embaixo da lona acendesse, eles ligariam a música e os insetos chegariam em fila, entrando e sentando em cadeiras feitas de blocos de anotações.
A casa seria logo coberta de minúsculos cartazes coloridos (feitos com bloquinhos, claro) e quando menos esperasse, acordaria amarrado, e seria mais uma atração do circo. “O Magnífico Gigante de Marrom” seria meu nome, e eles me trariam amendoins, montariam um trampolim e jogariam direto na minha boca, arrancando ‘ohhh’ e ‘ahhh’ da platéia, pela bravura.
Ganharia queijo pela manhã, e eles jogariam água com pequenos esfregões feitos de pedaços de pano e palitos de sorvete.
Logo logo começo a me enxer, e não dou mais urros nem ameaço arrebentar as cordas. Eles se irritam e me espetam com garfos tortos, param de me alimentar, e numa noite, quando a multidão já estava reduzida a ratos gordos e bêbados, e 3 baratas que roubavam meus amendoins, levanto de sopetão, derrubando meus guardas e procurando algo pra arremessar neles.
Fugi da casa correndo, e nunca mais ouvi falar do famoso circo dos gatos, mas sempre recebo bloquinhos de papel com frases ameaçadoras e marcas de mordidas.
nossa,seu texto me lembra muito os textos da Marina Colasanti,adorei!Você tem uma semi-fã.