Stay Alive

Stay Alive

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Não ligo se vou ficar surdo um dia, quero sempre aumentar o volume, até a música abafar tudo lá fora. Não quero mais ouvir britadeiras e caminhões velhos, crianças chorando e pessoas bem vestidas que falam demais. Está tão alto que não consigo prestar atenção em nada, ninguém. Nem queria, também. É como estar invisível, translúcido, embaçado.

Não ligo pra fumaça, quando se tem pais que fumam você acaba se conformando que já cresceu com os pulmões negros e vai acabar com alguma complicação qualquer, magro, sem dentes, sem casa, esquecendo como é o gosto de tudo e falando sozinho. O lado bom é que você pode praguejar sobre o quanto a vida é injusta e te tirou todas as oportunidades. Mesmo não dando a mínima pra isso.

Não ligo se estou ficando cego, já vi muito do que quis ver e mais ainda do que não quis. Já posso dizer que a arte não me impressiona e a beleza é previsível. Não vamos ver cometas ou estrelas cadentes, nem eclipses ou a aurora boreal. Somente mais do mesmo e tentar dar valor a isso, tentar tanto que vamos ficar cansados com um sorriso falso no rosto, como se tivesse valido a pena. Não valeu.

Quero mergulhar na xícara de café, preto, quente, com pouco açúcar. Entrar em um mundo surreal, com cidades submersas e barulhos de monstros enormes de marshmellow. Vou ser movido a medo, procurar pelo medo, fugir do medo. Só não sei quando, ou por que.

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