A vida vive (é.) nos pregando peças. Outro dia mesmo, podia jurar que vi de relance a barra do vestido rosa que ela usava, virando a esquina, correndo. Tinha aprontado mais uma das suas. Tinha feito meu dia o pior dia do mundo. Coisa pequena. Um dia, de tantos. É como bater o pé no canto da mesa. Ali, naquele momento, é a pior dor que qualquer mortal presenciou. Ninguém sofreu tanto quanto você está sofrendo. Você é um mártir, vai morrer por toda a humanidade, vai suportar o fardo de todas as batidas de pé nos cantos das mesas que já existiram e que viriam a existir, de uma só vez. E no fim vai aguentar. E vai dar fazer uma massagenzinha, e lembrar que precisa desligar o microondas porque infelizmente ele só soma o tempo de um em um minuto, e você só precisava de trinta segundos.
Existiu uma menina, com seu gato. Ela adorava aquele gato. O gato não sabemos dizer se adorava tanto assim a menina, gatos não adoram coisas (pessoas são coisas para os gatos, sim sim), eu acho. Ia pra lá e pra cá com o bicho, fazendo as pessoas se perguntarem porque diabo ela levava o gato visitar o túmulo de sua avó, ou brincar de esconde-esconde. O gato não mostrava lá muita empolgação.
Um dia a menina acordou triste. Assim, como quem não quer nada. E o gato nunca esteve tão feliz. Parecia outro animal, saltitando e pegando moscas por ai, ameaçando pular em tudo, daquele jeito que gatos fazem. A menina continuou apática por dias, tentando esboçar um sorriso cada vez que seu gato aparecia, orgulhoso, de qualquer droga que ele tinha feito. “Não é exatamente o maior acontecimento da história”, ela pensava.
E em outro dia, o gato acordou triste, e a menina feliz. E assim continuou por um bom tempo. A menina logo percebeu que dividia uma ligação com o animal. Os dois não podiam ficar felizes ao mesmo tempo. Era como se alimentassem da tristeza um do outro, mas não ao ponto em que se odiassem. Dependiam daquilo, precisavam estar próximos. Precisavam consolar, e serem consolados. Quando a menina chegou a essa conclusão e foi atingida na cara pelo tijolo da razão, caiu em uma depressão profunda. “E agora? Quero ser feliz, mas se eu for feliz, meu gato viverá miserável.” Ela martelava essas palavras o tempo todo, indecisa. Enquanto isso o gato estava no seu auge, até enquanto dormia parecia ser o animal mais tranquilo do mundo. A menina criava mil e um cenários onde tentava balancear as coisas. “Talvez se ambos forem indiferentes com a vida.” Mas isso nunca funcionava. Então ela chorava ao perceber o quanto tudo aquilo era injusto. Ela tinha consciência do que estava acontecendo e era consumida pela culpa, enquanto o gato, em sua abençoada ignorância animal, simplesmente vivia, seja triste ou feliz. O que ela faria? Seria feliz e deixava o animal sofrer. Ela era mais importante que o gato, por saber o que estava havendo? Deveria aceitar seu destino e proporcionar uma vida feliz ao pobre animalzinho, que claramente viveria menos que ela? Aguentaria viver tanto tempo na escuridão, por escolha própria, sabendo que pode sair dali se assim quiser?
as vezes me pergunto sobre qual seria a linha comum que une as pessoas e o que realmente é importante…acho que nunca obterei respostas,no entanto assim me mantenho sã.
Seu idiota, sempre me faz pensar.