Sua história favorita era João e Maria, porque representava bem os conceitos desvirtuados dos contos de fadas. A menina tinha aquela maturidade que faz com que certas crianças pulem de fases cruciais da infância, pra tediosidade. Logo se cansava das brincadeiras normais. Logo decidia que um monstro voador viria dos céus e as bonecas teriam que fugir, ou que um barco a vapor serviria de casa para os recém casados.
Ela queria o seu próprio conto de fadas, mas nada daquela coisa besta de príncipes e princesas, isso era monótono demais. Queria histórias como João e Maria, ou Chapeuzinho Vermelho. Onde certamente algo real aconteceu, não foi tudo um conto idealista feito pra filha enjoadinha de qualquer rei dormir.
Chapéuzinho por exemplo, quem sabe alguém foi devorado por um lobo, ou um caçador salvou avó e neta da morte certa. Mas o que mais admirava a menina, era como essas histórias começavam. Crianças saindo pelas florestas sozinhas, com objetivos inocentes e sinceros acabavam se deparando com algo assustador e sem explicação.
O que se passou na cabeça de Maria quando decidiu acompanhar seu irmão no meio da floresta? Fugiram de algo? Ou procurando aventuras, assim como ela muitas vezes já teve vontade de fazer.
Um dia ela fez, encheu sua mochila de pães, pegou seu irmãozinho e saiu pela floresta. Quem sabe ali um novo conto de fadas surgiria, o seu conto, não importa o que acontecesse. Ela aceitava a idéia de que talvez coisas muito ruins estavam por vir. Sabia que isso era necessário para que um dia, algum senhor de idade modificasse a história e contasse ela para seus netos, naquele cinismo adulto de assustar, mas sem querer assustar.