The more i tried…

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Quando o molho ferver, adicione 2 pitadas de pimenta e mexa bem.

Ai eu sai a noite, andando sozinho por ai. Se as pessoas não tivessem metade do receio que elas tem de ficarem sozinhas, o mundo teria muito menos terapeutas.
Em poucas situações o frio é aconchegante. Acho que só certas pessoas sentem isso, se você não sente, que bom.
Toda cidade devia ter uma ponte igual essa, alta com um rio barulhento embaixo. Há quem diga que nos sentimos bem porque achamos que estamos no controle da natureza, que somos superiores. Eu sei lá, só gosto do barulho e de saber que de certa forma estou flutuando.

Tinha uma garota lá, naquela pose normal de “vou me jogar da ponte”. Do outro lado do parapeito, com os braços segurando atrás meio arcada. Nem vou falar o quanto me senti atraído por aquilo, não quero parecer especial nem nada, meus problemas são normais, depressão, bipolaridade, ansiedade, baixa estima e blábláblá. Alguém se jogando da ponte pra mim é um prato cheio.

Que foi? Estou sendo sincero, só isso. Sempre sou eu quem pensa em se jogar, confesse que é interessante.

Espere dourar, então jogue vinho branco para flambar, não esqueça de fazer movimentos para cima.

– Sai daqui.
– Calma, não vou falar pra você parar nem nada, só quero ver, posso?
– Ver pra que?
– Não sei, só quero ver.
– Não consigo pular com você vendo…
– Hm.
– Sério garoto, sai daqui.
– Me da alguma coisa sua?
– Ahn? Pra que?
– Amanhã você vai estar nos jornais, só quero ter alguma coisa sua.
– Pode ser essa pulseira?
– Pode.

Não sei responder metade das coisas que me perguntam, só digo o que acho que eles querem ouvir. Não sei nem pra que perguntam, o que se encaixa na parte onde não sei responder.
Porque não impedi ela?
Porque você impediria ela?
Podia até agarrar a garota, ou chamar os bombeiros ou algo que o valha. O que ia ganhar com isso? Ganhei uma pulseira, e provavelmente a unica conversa que valeu a pena na minha vida toda.

Ao contrário do que pensam, pato é uma carne mais dura do que frango, e portanto deve ser tratada como tal, necessitando de mais tempo no forno e de condimentos para ajudar a amaciar a carne.

– Olha sei que você talvez não queira ouvir isso, eu no seu lugar acharia que não iria querer ouvir isso, mas no fundo eu ia sim. Então… quer conversar sobre algo?
– Se você for mesmo deus disfarçado, ou algum santo, ou qualquer coisa, eu vou ganhar outra chance? É isso não é, um teste?
– Não… não mesmo. Mas quem se importa, se eu fosse eu nunca diria que sou, não é.
– É.
– Sabe, queria ter mais vontade de tudo.
– Como assim?
– Ah, de coisas sem sentido, que todo mundo se preocupa. Não tenho nem ânimo de falar pro caixa do mercado que ele me deu o troco errado. Na hora só penso que ele deu o que eu merecia. É tão simples, só falar que faltou dinheiro, ele ia sorrir e pedir desculpas, e me dar o dinheiro. Mas só de imaginar isso já tenho calafrios, essa coisa toda previsível.
– Ah… devem te chamar de imbecil.
– Aham. Quer ajuda pra pular?
– Como?
– Sei lá, qualquer forma, ninguém vai ver mesmo. Posso segurar suas mãos ai mentir que vou contar até 3 e soltar no 2.
– Ok.
– 1…

Várias pessoas reclamam do que é feito o cachorro quente. Mas poucos sabem que o patê de presunto com ervas finas, aquele caríssimo, também utiliza os mesmos conservantes e as mesmas drogas moídas e prensadas pra formar uma pasta. A questão é quanto você paga pela merda toda, afinal se for uma merda caríssima, ela deve valer a pena, não?

Nunca vou ter a coragem da garota, sei disso.
Vou viver até ter uma doença qualquer, câncer ou algo assim, e simpatizar com a enfermeira que me atender. Ai vou ficar amigo dela, tenho mania de gostar de amigas, e descobrir que ela gosta de outro cara. Nunca vou contar pra ela.
Não sei porque a garota pulou, e nem quero saber. Ganhei uma pulseira, e provavelmente a melhor história da minha vida.

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