Imaginem só acordar em um mundo onde todo o ar virou gelatina. Nada de compromissos bestas como “ter de respirar” ou “ter de tomar banho antes de jantar”.
Você é uma criança biônica, com pulmões de aço e um coração que no fundo é metade bomba nuclear, para emergências, é claro.
Mas ainda é uma criança, e adora gelatina. Vai cavando seu caminho por ai, descobre senhores de suspensório que fizeram um iglu de ar no meio da gelatina, mas ali no cantinho tem um buraco cheio de vômito, não aguentam mais comer nada que seja mole, colorido e transparente.
Os animais do zoológico todos ficaram presos na gelatina, e agora somente seus olhos se movem, ameaçadores. Tigres, leões, grifos, mamutes, demônios da tasmânia, uma mistura de girafa com pés de elefante e rabo de peixe, e um zelador chinês chorando.
Seguindo vibrações na gelatina, você cava cava cava e chega em uma fábrica de chantilly. Os operários cantam todos em coro uma música sobre lavar a roupa, e o dono está sentado na frente cabisbaixo, chutando pedrinhas.
Ao perguntarmos o que houve, ele diz que “Oras bolas, que pergunta idiota, é óbvio o que houve, com toda essa gelatina ninguém mais quer chantilly, quando se tem um esquece do outro, vamos falir.”
E você tenta animá-lo, dizendo que tudo tem um jeito. Ele arregala os olhos e segura em seus braços, chacoalhando e dizendo “É mesmo, você pode comer toda essa gelatina, não pode? Pode comer TODA a gelatina, e me salvar, salvar a fábrica, vamos vamos, você é tudo que eu preciso, tudo, você, quem diria.”
Mas fugimos correndo, sem imaginar que todos ali morreriam de fome e suas famílias esperariam pra sempre a volta dos operários.
Você decide ir ao Canadá, sem motivo, só pra ver como estão os alces no meio dessa gelatina toda. Lá vemos que eles estão muito bem, obrigado, e fundaram sua própria cidade, com time de Hokey na Gelatina, patrulhas florestais que buscam salvar a polícia montada em extinção, e tudo o mais.
Nos deparamos com peixes realmente estranhos, com homenzinhos presos nas barrigas. Barcos enormes, com ventiladores no lugar das velas e pescando ursinhos de gelatina que andam em cardumes.
Ao chegar no fundo do oceano, encontramos o chão novamente, e eu decido ir embora. Você diz não, por favor, fique. Eu vou e parto seu coração, que explode em um cogumelo radioativo, fazendo voar toda aquela gelatina, e cria um buraco no mundo, que de longe parece ter virado a lua crescente.
Barcos enormes, com ventiladores no lugar das velas e pescando ursinhos de gelatina que andam em cardumes.é uma bela imagem,gostaria de estar em barco assim ou só num catavento ou num tentáculo de uma água viva.