Unthought

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Ela gostava de decorar um aquário para tartarugas que nunca viriam.
Era mais baixa que o normal, mas isso nunca foi um problema porque nunca quis escalar.
Tinha olhos verdes que mudavam de cor sempre 5 minutos antes do sol se pôr, mas ninguém sabia disso além dela.
Gostava de correr quando estava sozinha, e imaginar que se pulasse sairia voando, mas nunca pulou.
Tinha 4 pintas abaixo do pescoço, e usava uma caneta para ligar elas e formar um dado virado no três.
Era destinada a ter síndrome de parkinson, nunca souber, mas achava que era nervosa demais.
Preferia ouvir Elvis ao invés de Beatles, e uma vez fez bonecos de vodu para eles, mas se arrependeu e foi a missa confessar.
Tinha medo do escuro, mas nunca contou a ninguém.
Achava que nozes eram feitas especialmente para esquilos, então não comia elas, mas dava uma quebradinha para facilitar o trabalho.
Sabia que se cortar não era bom, mas quando fechavam a porta e a deixavam sozinha era a única solução.
Nunca contou a seus pais o que realmente queria ser quando crescer.
Sempre amarrava o tênis esquerdo antes do direito.
Procurava ler todas as bulas de remédio que podia, porque viu no cinema uma vez um garoto salvar uma senhora assim.
Quando ela entrava na sala tudo parecia diminuir.
Não gostava de ver filmes sozinha, mas odiava andar acompanhada na rua.
Queria ter nascido filha de artistas do circo, qualquer um menos dos trapezistas.
Daria tudo para morar em uma casa de vidro, no meio da floresta.
Com doze anos subiu no telhado e se jogou na grama, quando seu irmão disse que eles não podiam pisar na grama, pois era água.
Com vinte e sete fez um curso de paraquedismo, e não abriu o para-quedas.
Sempre que fechava os olhos via uma lua cheia enorme.
Teve um amigo imaginário por 3 anos, mas parou de ver ele quando perdeu sua manta mágica.
Tinha uma cicatriz na perna esquerda, de quando fugiu de casa e foi atropelada por um entregador.
Aos oito anos foi internada para uma lavagem estomacal quando brincou de restaurante com os frascos de remédio.
Não tinha sonhos, mas sabia que um dia realizaria tudo.
Começou aulas de piano, mas só foi em três porque o professor gostava de bater no cachorrinho que ficava por perto.
Beijou sua amiga quando ela disse que nunca viu olhos tão lindos como os dela, e que davam vontade de morrer.
Caiu de costas no chão quando tentou andar de pé no muro da casa da avó, e ficou sem ar por trinta e quatro segundos.
Sabia que não existia papai noel, mas gostava de escrever cartas.
Na aula de literatura, quando tinha sete anos, todos deveriam escrever uma mensagem para a cápsula do tempo, que seria aberta daqui a vinte anos, e sua mensagem era “Socorro”.

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