Urina

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As pessoas arrastavam seus pinguins pra todo lado, em um misto de conformismo e revolta quase impossível de conceber. Eram pinguins gordos e sujos em áreas que não ficavam a mostra, como debaixo das asas (patas ou sabe-se lá o que aqueles animais confusos tem balançando ao lado do corpo), e nas dobras do pescoço.

Todos precisavam levar os pinguins, o que nem sempre era uma tarefa simples. Alguns faziam barulho demais, outros eram gordos demais, outros fediam demais. Mas seus donos os empurravam pra la e pra cá, as vezes se enroscando em degraus ou buracos escondidos. Apesar de todo mundo saber da existência dos animais, eles eram ignorados. O dos outros, digo. As pessoas se cumprimentavam sem botar os olhos nos pinguins dos outros. Ninguém falava uma palavra sobre isso. E mesmo assim existia a preocupação de deixar seu próprio pinguim apresentável, pelo menos no exterior. Vai saber quem está olhando disfarçadamente, não é mesmo.

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