Demorei até admitir que meu maior luto era relacionado à perda de amizades que ainda estavam respirando. Todo mundo ali continuava vivo, mas perdi o número deles. Minha necessidade de pertencer potencializava esse sentimento. Cobrei muita coisa sem enfrentar quase nada. 8 mil, duzentos e cinquenta e três diálogos passaram pela minha cabeça. Tinha todos os argumentos. Nenhuma certeza.
É meio doido se isolar e culpar o mundo. O universo. Nasci assim. Fugi, com razão, mas esperava que fugissem comigo. Errei em não olhar pra trás. Gente maneira não olha pra explosões. Devia ter engolido o orgulho e virado de relance, tinha alguns pássaros tentando me acompanhar. Você tem raiva da cor da vida e joga tinta em quem segura sua escada.
Mas minha culpa tem pulgas, então tá tudo bem. Absolvem o cachorro, fazem um carinho. Faz parte.
Penso em mandar algumas cartas, pra amizades antigas e amizades novas. Penso em quem responderia. Todos responderiam. Me orgulho disso, de todos responderem minhas cartas que não serão mandadas. Imagino os envelopes, não imagino as cartas.
Agora, agora, tenho vontade de te ligar. De ouvir um esboço de risada. A nostalgia presa no bloco de concreto na frente da sua casa. Quero perguntar como está seu irmão. Sua mãe. Quero ler seu diário.
Tem um violãozinho tocando, ouve aí rapidão. Me emocionei um pouco no texto. Mas já passou. Vai dar tudo certo no final. Sempre dá.