Tenho pensado no propósito da existência enquanto tomo café da manhã. Comecei com isso faz pouco tempo, antes pensava como deve ser o dia a dia de alguns anfíbios antropomorfizados. Estou em dúvida entre amar o próximo e a reprodução a qualquer custo. Tenho bem pouco gás espiritual, já deixo avisado.
Quase que ao mesmo tempo, comecei a sonhar com sombras de gente que nunca conheci. Vejo seus corpos refletidos em alguma superfície, consigo identificar trejeitos e deduzir personalidades, simpatizar com alguém que tem os cotovelos proeminentes ou que se curva pra frente quando sofre uma interrupção.
Tentei pensar na existência em outras refeições mas acabei entrando em discussões onde acabava ofendendo minha auto estima. Voltei a pensar em sapos estudando contabilidade ou salamandras artesãs.
Lá no fundo, depois de todas as sombras que preciso conhecer, tem uma usando um chapéu familiar que vai perguntar qual o consenso sobre motivo da minha própria existência, e preciso ter um seminário pronto quando essa pergunta cair no chão, respigando nas minhas canelas.
Confesso que tenho tentando inventar uma cor, ou uma forma de assoviar sem usar os dedos, ou algum tempero com tons azuis. Se esse fosse meu propósito seria ótimo. Meu medo é que seja algo como acabar com a fome, ou fazer com que a palavra funesto entre no vocabulário popular, aí ferrou.