Imaginário

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Nunca me senti tão cansado. Mas já estive pior. Já estive preso. Agora é só dor nas articulações e sede de algo que não consigo lembrar, mas sinto que combina muito bem com limão.

Vez ou outra me pego pensando no dia que, depois da aula de futebol, o treinador conseguiu que abrissem a piscina do clube pra gente. Era daquelas grandes e fundas, com trampolins e tudo mais. Os meninos mais velhos foram direto pro mais alto, já tinham pulado antes e era uma chance imperdível de ganhar uns pontos com os outros. Eu segui atrás, bem confiante até, apesar de nunca ter feito nada parecido.

Chegamos no terceiro trampolim, no topo, e uns começaram a pular. Aos poucos foram ficando só os mais hesitantes e eu, que não sei bem como me classificar. Gosto de pensar que não estava hesitante, até chegar minha vez e andar na famosa prancha. Se estivesse acho que nem teria chegado nesse ponto, com medo de me empurrarem, mas no fundo algo me dizia que eu pularia. Claro que não pulei. Mas desci até o segundo trampolim, logo abaixo, e pulei de lá. Não tinha a pressão de ser o mais alto eu acho.

Uma péssima ideia do terceiro trampolim continua uma péssima ideia do segundo trampolim. A altura da prancha era menor mas a profundidade da piscina seria a mesma pra qualquer um, claro. Na hora nem me ocorreu que pra evitar que as pessoas se quebrassem no fundo ela teria uns 3 ou 4 metros de água. A queda até que foi aceitável mas o desespero bateu assim que comecei a afundar, e afundar, e afundar. Não sei nadar, nunca soube, mas nunca tive medo de água também. Cresci com uns tios meio inconsequentes que incentivavam os mais novos a ficar junto no meio do mar, mesmo que não desce pé. Acho que metade da diversão era ver a gente tomar uns caldos.

Depois da eternidade afundando senti os pés no fundo e me impulsionei com força, sabia que minha melhor chance era subir de uma vez só. Até que deu certo, mas eu estava no meio da piscina, ainda tinha que chegar na borda.

Além de ser péssimo em jogar conversa fora eu nunca fui muito bom em pedir ajuda. Não sei explicar o motivo. Não é vergonha nem nada, acho que é mais um receio de que no fundo eu nem precise de ajuda mas to me desesperando a toa. Seria só me acalmar e pensar logicamente pra resolver tudo, como uma questão de matemática. Claro que dessa vez eu precisava mesmo de ajuda, mas to tentando analisar meu raciocínio pré-adolescente que, sem saber, estava regando uma versão simpática do monstro roxo que hoje em dia mora no vão entre minha cama e a parede.

Não lembro bem como mas cheguei na borda da piscina, sozinho, e ninguém percebeu que eu podia ter morrido. Não pulei mais depois disso, só fiquei na parte dos tobogãs com o pessoal da minha idade.

Também não sei a razão dessa história em específico ter caído da estante da memória ultimamente, mas gosto de pensar nessas coisas como um horóscopo interno. Alguma coisa quer dizer, mas só se você acreditar o suficiente.

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