O fato de não terem inventado psicoativos perfeitos me faz acreditar um pouco mais na força de equilíbrio do universo ou sejá lá o que for. Você sabe do que estou falando, já tivemos essa conversa vezes demais. Não existe um comprimido que te deixe feliz o tempo todo sem afetar alguma fisiologia estúpida como não conseguir ir ao banheiro por 5 dias ou ficar vendo gatos fantasmas correndo pelo canto do olho. É a dissuasão mística que nos impede de vegetar plenamente até a morte como espécie.
Enquanto não consigo tirar da gaveta de cabeceira um frasco com 2 gotas milagrosas que vão me botar em sono profundo por pelo menos 6 horas (os resultados podem variar de acordo com peso, idade e outros fatores, consulte seu médico) fico pensando em diferentes formas pra cansar o maldito cérebro e apagar. Pensar que estou em uma ilha deserta e preciso sobreviver funcionou por um bom tempo, mas tem só um amontoado de coisas que você pode fazer sem burlar o sistema e imaginar que foi parar em uma ilha abandonada mas com um canivete suíço ou um maçarico por exemplo.
É curioso pensar que se não existir alma ou coisa que o valha somos só uns 86 bilhões de células da massa encefálica que precisa criar maneiras novas de não ficar acordado por muito tempo senão perde toda a capacidade de funcionar. E fazer cocô regularmente. Nosso corpo é o bicho de estimação que busca a própria coleira e pede pra ir lá fora.
De insônia em insônia gosto de pensar em situações absurdas, mas que dariam boas conversas de bar se seus amigos levarem suposições a sério, como todo bom amigo que se preze deve fazer. Discussões imaginárias onde debato dois ou três pontos de vista comigo mesmo até desligar. Uma das mais recentes foi: aparece um ser alienígena dentro de uma bola de energia invulnerável e sai flutuando por aí lentamente. Não diz nada, não interage com nada, só se desloca a esmo. Como o mundo reagiria?
Uma das versões derivadas da minha consciência insone defende que só a existência do ser desencadearia uma reação em cadeia onde a humanidade entraria em colapso por ter guerras demais. É a versão que não muda o corte e cabelo faz uns 16 anos e fica enchendo o saco pra ir num lugar com cerveja artesanal. Outra delas acha que seria o estímulo necessário para unirmos todos os esforços tecnológicos em uma corrida espacial sem precedentes em busca de contato pra adquirir tecnologia alignígena. Essa é aquele amigo que você nunca viu usar outra coisa nas pernas que não fosse calça jeans e te fez aceitar a pior viagem da sua vida. A terceira bate na mesa e diz com convicção que seria só mais um motivo pra criarem religiões desnecessárias e canais introspectivos onde um bando de gente segue a maldita bola de energia por aí e causa problemas de segurança pública aleatórios. Essa é a versão que você mais conversa, mas de alguma forma sabe que vão acabar sem se falar por anos só porque os dois acabaram vivendo a vida ao invés de esperar o próximo final de semana.