Pirâmide

Categories silence

Um dia ela me disse que era viciada em despedidas. Que nossa amizade não duraria muito, porque inevitavelmente iria embora logo depois de termos uma noite incrível. Falei que faria o possível pra termos noites medíocres então. Rimos e dividimos algumas garrafas. Ela foi embora no dia seguinte. A despedida foi um aceno de dentro do carro, mas eu nem reconheci na hora, sou ruim com carros. Só vi depois pela placa.

Se você fingir que está sorrindo seu cérebro vai liberar alguns hormônios que liberaria normalmente se estivesse feliz de verdade, é algo relacionado a expressão mesmo. Eu gosto de citar esse fato para estranhos na fila do supermercado. Queria perguntar para o rapaz do caixa o que ele achou da minha personalidade baseado no que comprei. Se ele poderia escrever um pequeno artigo sobre mim, destacando que peguei dois potes de alcaparra, fio dental, batatas e areia de gato. Acho que ele não escreveria. Talvez um pequeno parágrafo se eu fosse bem insistente.

Toda vez que me perguntam do que mais tenho medo na vida digo uma resposta meio pronta, mas na verdade morro de medo da facilidade com que eu teria de morar na rua sem ter contato com ninguém por anos. Só me perguntaram do que mais tenho medo na vida uma vez, mas eu gosto de pensar nisso e crio um roteiro mental de como a conversa seguiria, e no que eu pensaria escondido.

Esse ano queria dizer o que sinto com mais frequência, mas primeiro acho que é importante sentir mais.

As coisas sempre se acertam no final. Não que se acertar signifique ser bom, mas elas se encaixam, com ou sem você.

Categories silence

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *